A avenida passava num alvoroço, embora nunca tivesse saído do sítio. As pessoas passavam por ela, umas sem saber para onde ir, outras com pressa de lá chegar. Lojas, cafés e outros estabelecimentos marcavam a rotina daquela esplendorosa linha no mapa.
Junto a uma esplanada que ficava mesmo em frente da tabacaria (uma divisão muito pequena, de quatro paredes de ferro verde, velho e enferrujado), uma personagem vivia, sentada num caixote de madeira, a rotina dos seus dias.
Um homem negro, de roupas velhas e originais: Usava uns óculos Ray Ban Wayfarer brancos e uma cartola não muito alta tinha um buraco no fundo, de tão velha que era… vestia um casaco vermelho longo e elegante, com botões de prata, escuro de tão sujo e gasto que estava.
Músico, um lunático que amava a poesia e a música ou qualquer outra forma de arte…
Todos os dias se sentava nos seu banco (o caixote) pegava na sua guitarra de doze cordas, enquanto ao mesmo tempo pousava a sua cartola no chão da calçada, e aí ficava a tocar todo o dia com uma calma que quase irritava as pessoas que passavam… bem nem todas, as que paravam para comprar o jornal e tabaco, olhavam para ele com um gesto amável e colocavam uma moeda na sua cartola. As pessoas que estavam na esplanada limitavam-se a admirar o seu talento, e talvez só não colocassem uma moeda na sua cartola porque se encontravam na sua hora de descanso e não se queriam afastar dos seus assentos, quanto mais do seu cinzeiro e do seu café.
Num fim de tarde de terça-feira, quando o sol tornava o topo dos prédios amarelo-torrado e o ritmo da avenida se tornava cada vez mais rápido e atarefado, um senhor que parava para comprar charutos, olha para aquela figura sentada a tocar guitarra com um ar de admiração e contemplação e coloca algumas moedas na sua cartola:
- Isto deve chegar para um lanche.
O músico agradeceu através de um modesto gesto com a cabeça.
O senhor é subitamente interrompido pelo vendedor da tabacaria que lhe chama a atenção para o facto de se ter esquecido do troco. No mesmo momento, e enquanto voltava atrás para reclamar o seu esquecido troco, o músico olha para o velho relógio na parede do café e vê que eram horas de ir embora.
Ao levantar-se com a guitarra na mão, pega na cartola, rota, e todas as moedas que lá tiveram caído, voltaram a fazê-lo pelo buraco no fundo da mesma, mas desta vez para o chão.
O senhor que, minutos antes, lá tinha posto algum dinheiro, ao ver tal situação, não tardou a avisar o sucedido ao músico, que nesta altura já virava costas.
O músico ao ouvir tal aviso responde seguramente:
- Obrigado pela admiração, e pela gentileza de me ter avisado, mas não me é novidade. Chamo ao que faço arte e não acho que possa ter, nunca, qualquer valor em dinheiro…
E levantando a cartola como um sinal de despedida, mergulhou no mar de gente que corria atarefada pela praça naquele fim de tarde.
Data: 02/07/2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
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1 comentário:
aquela a q é chamada a "verdadeira arte" , transmiti-nos defacto o valor da mesma e o valor de nao se poder comprar de qualquer modo. mensagem que retiro deste conto . gostei muito ass: joao's friend.
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